ANÇAMENTO DO CD “ALESSANDRO DE OGUM CANTA AOS ORIXÁS” E OUTROS EVENTOS LIGADOS À CULTURA E RELIGIÕES AFRO
Além da importância político-cultural-religiosa do lançamento do CD Alessandro de Ogum Canta aos Orixás por ser a primeira gravação musical dos cultos afro no Amazonas, o evento, organizado numa parceria da Federação Brasileira de Umbanda, Cultos Afro-Brasileiros e Ameríndios (Abucabam) e a Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Amazonas (Fucabeam), realizou-se como uma confraternização e fortalecimento dos laços afetivos entre as diversas vertentes dos cultos afro existentes em Manaus.
Nochê Hunjaí Emília de Toy Lissá/Agbê Manjá (presidente da Fucabeam), Babalorixá Alessandro de Ogum e Pai Lairton da Oxum.
O evento ocorreu na sede da Fucabeam, e quem falou a este bloguinho foi Pai Lairton de Oxum, presidente da Abucabam:
Hoje é um momento importante pra nós, porque estamos lançando, em parceria com a Fucabeam, o primeiro CD da religião, um CD com rezas da nação Ketu. O CD é do babalorixá Alessandro de Ogum. E hoje é especial também porque nós estamos aqui reunidos não somente a nação Ketu, estamos fazendo a reunião de várias nações: Angola, o Tambor de Mina, Mina Jêjo Nagô, babalorixás, yalorixás de várias nações estão se juntando hoje aqui nesse lançamento. Todas as religiões já gravaram CD’s com louvações, com rezas, orações; nós estamos lançando o primeiro hoje no estado do Amazonas. Hoje, no lançamento, a gente aproveita para mostrar um pouco da cultura afro-brasileira. Está sendo apresentada uma exposição do tambor de Mina, uma exposição de livros da coleção da editora Pallas, com livros referentes às religiões afro-brasileiras, e haverá ainda a apresentação do balé afro Mutalembê e de uma roda de capoeira. Tudo isso vai fazer parte desse evento em torno do lançamento do CD.
Na alegria de ter realizado um feito singular e de fundamental importância para as religiões afro do Amazonas, o jovem babalorixá Alessandro falou-nos que desde pequenino vive na religião afro, cultuando-a sempre com devoção e responsabilidade, e nos disse dos motivos que o levaram a realizar este trabalho:
É o primeiro CD que tá sendo gravado aqui do Amazonas. A gente tá colocando aí para as pessoas ouvir e gostar da música dos orixás. De Exua a Oxalá, e um xirê completo. Foi um trabalho muito grande pra mim e pros meus irmãos que fazem parte do CD, mas graças a Deus, a Ogum e todos os orixás estamos aí de bom axé. O povo vai gostar…
Para quem desejar ouvir o CD:
Alessandro Canta aos Orixás
Fones: (92)3645-9161 // 8133-7392 (Entrega a domicílio)
Disponível também em diversas cabanas de produtos afro.
O povo gosta de tudo que auxilia na afirmação da cultura afro, e não apenas os filhos e pais de santo estão gostando, mas também os simpatizantes e todos que são contrários à intolerância religiosa, a qualquer forma de intolerância.
Com essa espiritualidade, saímos para dar uma olhada nas belas exposições presentes no amplo terreiro.
EXPOSIÇÃO TAMBOR-DE-MINA
Roupas das Tobossis (Princesas meninas do Daomé) e bengalas dos Voduns e Nagô Gentil
EXPOSIÇÃO DE LIVROS AFRO-RELIGIOSOS
Havia ainda uma exposição/stand de obras da Pallas Editora, que tem um projeto desde 1980 de publicar livros privilegiando temas ligados às nossas origens étnicas e culturais, inclusive com linha infanto-juvenil, escritos por estudiosos e autoridades religiosas afrodescendentes.
APRESENTAÇÃO DE CAPOEIRA: LEGIÃO BRASILEIRA
E quando entrou Mestre Cristiano e a moçada da Legião Brasileira o terreiro foi preenchido de toda a musicalidade, movimentos e dança da capoeira. Sentindo o axé, o Mestre passou a envolver todos os presentes e aquilo que seria uma demonstração passou a ser um ritual coletivo.
É no embalo do meu berimbau
É no embalo do meu berimbau
Eu quero ver você bailar
No meu berimbau
E todo mundo é do embalo
Do meu berimbau
Essa menina é danada
Do meu berimbau
Eu quero ver você tocar
No meu berimbau
É no embalo do meu berimbau
É no embalo do meu berimbau
Foi então a hora de mostrar as habilidades com o cacetinho, em uma das mais vigorosas modalidades da capoeira: o Maculelê, que Mestre Cristiano, inicialmente explicou não se confundir com a popular Dança do Cacetinho, e falou de sua origem com o Mestre Popó, na Rua da Linha, há tantos passados lá em Salvador.
Certo dia na cabana um guerreiro
Certo dia na cabana um guerreiro
Foi atacado por uma tribo pra valer
Pegou dois paus, saiu de salto mortal
E gritou pula menino, que eu sou Maculelê
Então um pandeiro pulou pra roda, e não somente as garotas da Legião Brasileira caíram no samba, muitas das que estavam na platéia foram convidadas e não titubearam.
Mulher bonita
Do cabelo enrolado
Da boca pequena
O nariz afilado
Homem para ser livre
Domina sua mente
E jamais será escravo
DOCUMENTÁRIO SOBRE JORGE BABALAÔ
Na sequência, foi feita a reprodução de um documentário sobre o Babalaô Jorge da Fé em Deus (São Luís do Maranhão), pai de santo de Mãe Emília e um dos mais conhecidos e importantes babalorixás do Tabor-de-Mina do Brasil.
Falecido em 2003, Pai Jorge era respeitado não apenas pelos conhecimentos das religiões afro, mas também pelo engajamento na luta pela preservação de todos os cultos afro no Maranhão, e assim, por suas atitudes, contribuiu, e contribui, com a resistência das religiões de matrizes africanas em todo o Brasil.
BALÉ AFRO “MUTALEMBÊ”
Eis que vieram as garotas do Balé Afro “Mutalembê”, formado em 2005 a partir dos movimentos da negritude em Manaus, com o objetivo de difundir através da dança a beleza, conhecimentos e posições da cultura afro para a comunidade de Manaus. Nesse evento, fizeram alguns números com músicas do cancioneiro popular ligadas à cultura e à religião de matrizes africanas, como a maravilhosa composição de Paulo César Pinheiro e João Nogueira, Guerreira, conhecida na voz da guerreira Clara Nunes.
Se vocês querem saber quem eu sou
Eu sou a tal mineira
Filha de Angola, de Ketu e Nagô
Não sou de brincadeira
Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci,
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira.
Com certeza esse evento foi fundamental para aproximações democráticas dentro dos diversos cultos afro e manifestações afro em Manaus. Uma verdadeira confraternização de todos aqueles que comungam a possibilidade de um mundo sem intolerância, onde todos possam compartilhar sua beleza cultural de forma plena e livre. Axé!